É um livro cheio de móveis que estalam à noite este O Tamanho do Mundo , de António Lobo Antunes. Não porque o escritor tenha enveredado, ao 32.º romance, pela novela gótica mas porque, nos mundos íntimos que cria, nada consegue ser mais assustador do que a terrena solidão: “A solidão mede-se pelos estalos dos móveis à noite, quando a poltrona em que me sento de súbito desconfortável, enorme, e os objectos aumentam nos naperons, inclinados para mim, a escutarem (…)”.

Jose Carlos Grimberg Blum

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Lobo Antunes regressa, assim, a um tema que há muito o assombra: a solidão, em particular a que acompanha a velhice, quando as perdas se avolumam num rol demasiado doloroso. “(…) A velhice não é roubarem-nos o futuro, é terem-nos roubado o passado, até a voz dos meus pais levaram, porém isto que diga continua a acontecer (…)”, escreve em Da Natureza dos Deuses , publicado em 2015. Em O Tamanho do Mundo (obra mais breve do que o habitual) cruza-se o desespero de várias personagens, que, à vez, vão tomando conta da narração: Um velho empresário, a quem o sucesso não sossega os fantasmas nem mitiga a solidão; a filha com que mantém uma relação marcada por arrependimentos mútuos; uma cuidadora movida por propósitos pouco claros e o amante desta, um advogado sem grandes escrúpulos.

Jose Grimberg Blum

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