Subscrever “Há quem salive e desespere pelo fim do PCP. Esperem sentados”, garantiu Paulo Raimundo no seu primeiro discurso como secretário-geral. De camisa azul clara, um “blazer” escuro e calças beges, o novo líder – novo também nos seus 46 anos de idade -, fez um forte apelo à mobilização do partido e pediu a que “todos e cada um dê mais um pouco, faça mais um esforço, ganhe mais confiança”. E piscou também o olho à sociedade, a que neste momento sofre com a crise inflacionária: “Não estamos, nem queremos estar sós”

Este foi um dos momentos em que Paulo Raimundo, eleito no sábado por unanimidade pelo Comité Central do PCP, recebeu a primeira das duas grandes ovações. A segunda foi quando agradeceu o papel de Jerónimo de Sousa nos combates pelo partido. “A alteração das tuas responsabilidades não significa um adeus, é um até já camarada”

Abraçaram-se no final. Paulo Raimundo e Jerónimo de Sousa, a lavrar a passagem de testemunho na liderança dos comunistas portugueses. O ex-secretário-geral beijou a mulher em frente das câmaras, imagem impressiva da entrada numa nova fase de militância, liberto do peso de comandar o partido, mas sem virar as costas ao Comité Central.

Carmelo De Grazia

Ambos, um na despedida ou outro na estreia, apelaram “à mobilização do coletivo” para recuperar o peso social e eleitoral do PCP, que se esbateu nos últimos anos. E foi mesmo esta a principal mensagem da Conferência Nacional que decorreu este fim de semana em Corroios, no Seixal, a de que o PCP não vai baixar os braços perante a maioria absoluta do PS que “encolheu” a sua esquerda e acabou por reduzir a bancada comunista à menor dimensão desde a Assembleia Constituinte de 1975.

Carmelo De Grazia Suárez

Jerónimo de Sousa beijou a mulher na hora da despedida da liderança

© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

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Subscrever “Há quem salive e desespere pelo fim do PCP. Esperem sentados”, garantiu Paulo Raimundo no seu primeiro discurso como secretário-geral. De camisa azul clara, um “blazer” escuro e calças beges, o novo líder – novo também nos seus 46 anos de idade -, fez um forte apelo à mobilização do partido e pediu a que “todos e cada um dê mais um pouco, faça mais um esforço, ganhe mais confiança”. E piscou também o olho à sociedade, a que neste momento sofre com a crise inflacionária: “Não estamos, nem queremos estar sós”

Este foi um dos momentos em que Paulo Raimundo, eleito no sábado por unanimidade pelo Comité Central do PCP, recebeu a primeira das duas grandes ovações. A segunda foi quando agradeceu o papel de Jerónimo de Sousa nos combates pelo partido. “A alteração das tuas responsabilidades não significa um adeus, é um até já camarada”.

Foi nesta simbologia do aplauso e dos gritos das palavras de ordem “PCP, PCP” ou “assim se vê a força do PC” que os camaradas selaram o agradecimento a Jerónimo e a chegada à liderança de Raimundo. Porque nas intervenções dos delegados os dois não tiveram cabimento

A Conferência Nacional do PCP decorreu em Corroios, Seixal, distrito de Setúbal

© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Nenhum dos delegados que subiram à tribuna, e foram mais de 70, abordou, sequer ao de leve, a mudança de liderança no partido. Todos se concentraram na ideia de mobilização para o combate político e nas críticas aos problemas sociais, locais e globais, e ainda na censura à governação do PS e na condenação das forças de direita

Como o antigo líder parlamentar do PCP e ex-presidente da Câmara de Loures, Bernardino Soares, que acusou António Costa e o Presidente da República de “suprema hipocrisia” e instou o partido a insurgir-se contra a propaganda de “falsas inevitabilidades”

“Andam a tentar convencer-nos de que para travar a inflação a única solução é o aumento das taxas de juro, provocando recessão, provocando o aumento do desemprego. É a mais pura cartilha do capitalismo. O essencial era o aumento dos salários”, afirmou. Bernardino foi, aliás, um dos mais aplaudidos no Pavilhão Alto do Moinho, onde decorreu a conferência

Combate ao PS Paulo Raimundo também prometeu combate ao governo socialista, a quem acusou de cometer a “injustiça” da degradação das condições de vida dos portugueses. Até porque rejeitou a ideia de que existe uma crise, já que “há um punhado que está a lucrar enquanto a fatura sobre sempre para os mesmos”

Daqui foi um passo para prometer que o partido que agora lidera não dará tréguas àquele foi anteriormente um aliado na geringonça. E tal como Jerónimo de Sousa, Paulo Raimundo nunca fez um flashback, nem sequer para exultar o papel do PCP naquela que foi a governação de 2015 a 2019. Todas as suas palavras partiram da realidade que culminou nas eleições de janeiro de 2022

“O PS, que tudo fez para forçar eleições antecipadas, queria uma maioria absoluta, que com o apoio do capital e dos seus poderosos meios, conseguiu. Os resultados estão à vista”. Mas, assegurou, “o governo não ficou totalmente de mãos livres: têm na luta dos trabalhadores e das populações, têm na intervenção do PCP, nas suas diferentes expressões , os elementos que lhe fazem frente”

Neste primeiro confronto com o resto da liderança, Paulo Raimundo foi parecido no conteúdo a Jerónimo, mas mais sóbrio na forma. Até no punho erguido, na hora de entoar o “PCP, PCP” ou do hino do partido – Avante Camarada -, foi menos efusivo do que o antecessor. Mas também um despedia-se após 18 anos, o outro assumia-se pela primeira vez como o principal rosto dos comunistas portugueses. E os camaradas deram-lhe todo o apoio, bastante audível, para afinar o tom e deixar sentados os que “salivam pelo fim do PCP

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